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Manobra de Kristeller: o NASCER não deveria ser traumático

Atualizado: 24 de out. de 2022

Por falta de legislação, gestantes continuam sofrendo abusos e agressões durante o

pré-natal, parto e puerpério




Imagem: Lieve Blancquaert / OMS;


Quem quando criança nunca pensou em não ter filhos, quando descobriu que pode doer bastante durante o parto? E que os gritos não são apenas de felicidade. E se por acaso, hoje em dia, as nossas crianças dissessem que não gostariam de ter filhos pois ouviram histórias de mulheres que foram muito maltratadas, abusadas e carregam traumas até hoje?


A ‘Violência Obstétrica’ (VO), pode deixar grandes sequelas nas vítimas e profissionais, anti-profissionais, impunes. No Brasil, uma a cada quatro mulheres sofre com maus tratos, pressão psicológica, agressão e falta de assistência durante o parto ou período gestacional.


“Desde o começo do pré-natal eu dizia para o médico que a conta das semanas que ele havia feito não estava batendo com a minha. Para ele, a minha filha nasceria entre 25 e 30 de janeiro, mas no meu cálculo o parto seria até o dia 20. Ele não me ouvia. Por fim, minha filha nasceu dia 26, quase morremos no parto e ela ficou internada sete dias na UTI neonatal”, relata Danielli Pereira, professora que passou por um caso de VO em 2001.


Nos hospitais públicos, 45% das mulheres que chegam para dar a luz passam por situações de agressão. Por incrível que pareça, nos hospitais de rede privada a taxa não apresenta tanta diferença, chegando a 30%, segundo a pesquisa realizada pelo “Nascer no Brasil”, grupo coordenado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-Fiocruz). Demonstrando que o problema muitas vezes não está apenas em hospitais públicos que atendem à população de baixa renda, mas sim, na falta de preparo e normas penais.


"Como se não bastasse as contrações, eu sentia que a minha costela iria quebrar"


Danielli Pereira hoje tem duas filhas e relata o que viveu em seu primeiro parto, “A minha primeira gravidez foi planejada, no tempo certo, um sonho de se tornar mãe. Quando descobri que estava grávida pela segunda vez chorei muito pois não queria passar por aquela experiência novamente”. A professora afirma ter engravidado pela segunda vez por acidente, pois se protegia com métodos contraceptivos justamente para não passar pela experiência do parto.


Na época, Danielli tinha 25 anos e já haviam passado 14 dias do esperado. 14 dias de fortes contrações e correndo risco de infecção ou perda do feto. “Mesmo dizendo sobre as dores de contração, os médicos plantonistas do hospital público que eu passava apenas falavam, ‘Você está ansiosa mãezinha. Volta pra casa e vai descansar’. Até que um dia eu não aguentei de dor e busquei outro hospital”.


Já na outra maternidade, segundo ela, o obstetra confirmou que a data prevista para a chegada da bebê estava errada e que o parto seria normal de emergência - a cesária não era mais uma opção pois a criança já estava encaixada na bacia e corria risco de óbito neonatal.


Neste momento, numa tomada de decisão rápida acreditando que fazer pressão seria a melhor saída, a manobra teve início. “Eu lembro claramente de duas enfermeiras subindo em cima de mim, colocando os braços entre a minha barriga e a costela e fazendo força para baixo. A dor era tão intensa que me deixava fraca. Como se não bastasse as contrações, eu sentia que a minha costela iria quebrar”, detalha Danielli.


É mais frequente do que parece

A criança nasceu, porém pelo atraso precisou ficar na UTI. A mãe continua com a lembrança e o impacto para o resto da vida. O último levantamento do governo foi feito em 2014, onde foi constatado que 37% das mulheres recebem a manobra em diferentes maternidades do país.


Nada no mundo é capaz de substituir um momento que deveria ser de paz e esperança. Ao invés disso, a(o) gestante precisa passar por exposição, angústia e desespero onde foi buscar acolhimento e assistência.

 
 
 

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Trabalho de conclusão de curso

UNIP - Universidade Paulista

Comunicação social | Jornalismo

São Paulo, Vergueiro

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