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A visão de vítima e profissional: Yessame Gregório

Mesmo trabalhando na área e já estando ciente das formas de violência, infelizmente a negra e ativista, entrou como mais um número para a estatística.



Imagem: ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva;


A técnica em enfermagem Yessame Maria Gregório, teve seu único filho há 38 anos em um hospital escola. Na época, a técnica já trabalhava na área da saúde e conhecia muitas pessoas que trabalhavam no hospital. Seu pré-natal também foi realizado lá e correu tudo bem, diferente de quando foi dar à luz. Ela relata ter recebido muitos toques "em um hospital escola, você está lá para ser objeto de estudo", contou.


Conversamos com a advogada Ruth Rodrigues, ela nos contou que os toques desnecessários não podem ocorrer em hipótese alguma. Apesar de estarem em ambiente de aprendizagem, a equipe deve respeitar o espaço da paciente.


Confira a entrevista completa com a advogada, Ruth Rodrigues, clicando aqui.


Yessame conta que o pré-natalista planejou desde o quinto mês uma cesárea, por conta do bebé ser grande. Ao dar entrada no centro cirúrgico, a então gestante demorou cerca de 10 horas para ser atendida. Ela também relata que uma residente a pressionou para assinar o termo de consentimento sem fazer a leitura do documento.


Por estar inserida no sistema de saúde público, ela nos aponta que há muitos erros nas orientações passadas aos profissionais em relação à humanização do parto e da parturiente: "o SUS faz parte de um sistema excludente. Enquanto estivermos nessa estrutura racista, vamos ter esses partos sofridos... são marcas que ficam no corpo até o ultimo dia", reforça.


Ouça o podcast completo da nossa conversa com a enfermeira e vítima de Violência Obstétrica, Yessame, clicando em: Yessame Gregório - relato de parto .


A técnica de enfermagem é ativista em prol do combate ao preconceito racial. Em uma de suas falas, Yessame comenta sobre situações que já vivenciou trabalhando na área. "O médico quando te chama e vê que você é uma mulher preta, ele te odeia. Não é que o SUS deve mudar, porque o SUS faz parte de um sistema excludente. Enquanto estivermos em um sistema racista, vamos ter esses partos sofridos".


A Associação Gênero e Número, em parceria com o Ministério da Saúde, divulgou em setembro de 2018 que a cada 100 mil mulheres negras que dão à luz em hospitais públicos, 22 morreram, entre 2008 e 2017.



Gráfico divulgado pelo Gênero e Número;


"É muito complicado para as mulheres pretas. Se você não se entende como pessoa, porque para isso precisamos nos entender quanto pessoa. Se eu não me entendo como pessoa, como povo e como ancestralidade, eu estou dentro do mesmo sistema reproduzindo", comenta Yessame.


Atualmente, ainda é comum escutar de profissionais de saúde que mulheres negras aguentam sentir mais dor. O que está relacionado ao racismo estrutural que é passado de geração em geração, dentro da nossa sociedade. Com isso, as gestantes pretas estão mais vulneráveis a serem desassistidas durante o pré-natal, através de falta de orientações sobre as complicações que podem ocorrem durante a gestação e na falta de realização de exames.


O Sistema Único de Saúde (SUS), tem como maioria o atendimento de mulheres pretas, se estabelecendo a partir da desigualdade social. Segundo a pesquisa realizada pelo coletivo Nascer no Brasil, 41,4% das mulheres negras atendidas não recebem orientações e acompanhamento adequado no pré-natal. Sendo que 4,8% destas mulheres, iniciam o calendário de exames apenas no terceiro trimestre da gestação.


"Como pessoa, eu tenho cidadania. Como cidadã, eu tenho direito e deveres. Eu posso cobrar os meus direitos. Eu não preciso de migalhas, a constituição me dá direito de parir com dignidade, não importa a minha raça e a minha cor", finaliza Yessame.


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