Reportagem com diversas mulheres gravada no parque Villa-Lobos, em Jaguaré, São Paulo.
Até pagando
Juliana Leite Lira, uma mulher preta de 29 anos, teve sua primeira gestação aos 15. O amparo do profissional que sua mãe escolheu, foi fundamental no momento “o médico se tornou amigo, se interessou e se preocupou”, nos contou.
Em sua segunda gestação, Juliana optou por realizar seu pré-natal em uma rede privada. Por não sentir segurança e receber poucas orientações, ela trocou de obstetra por três vezes "eu fui orientada, mas a orientação não estava do jeito que esperava, por isso que eu troquei para um terceiro médico...teve uma melhora pequena", disse.
No trabalho de parto, ela conta que a obstetra duvidou se sua bolsa realmente havia estourado, foi quando a profissional fez o exame de toque que acabou machucando a parturiente. Por estar com pouca dilatação a paciente teve que esperar cerca de 4 horas sem receber nenhum tipo de informação "as enfermeiras passavam por mim e falavam 'essa aí vai demorar, pula'. Depois de um tempo uma das enfermeiras me questionou se eu queria fazer um parto cesárea... aí eu decidi que sim porque já não aguentava mais esperar”.
A cesariana foi realizada por uma obstetra que Juliana não conhecia "ela não se apresentou, só sei que era mulher pela voz". Com descaso, a profissional perguntou à equipe por qual motivo a gestante havia escolhido cesárea, já que o bebê era pequeno. Os pontos da cirurgia causaram uma infecção generalizada e Juliana precisou ficar internada na UTI.
A paulista entende que violência obstétrica é a falta de cuidado com o corpo e com o emocional das mães. Ela acredita que se sua primeira gestação tivesse sido acompanhada por um profissional desconhecido, não haveria um tratamento humanizado e o tratamento poderia ser mais violento do que o segundo, considerando sua idade e o que outras mulheres relatam sobre o que vivenciaram na rede pública.